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Lixo de supermercado no Janga alimentava famílias

Flagrante mostra catadores recolhendo produtos com a validade vencida, comida estragada e recipientes de produtos químicos  (Hélder tavares/ DP/ D.A.Press)
Flagrante mostra catadores recolhendo produtos com a validade vencida, comida estragada e recipientes de produtos químicos

Até a última segunda-feira, a cena se repetia diariamente em um depósito de lixo na Rua Severino Monteiro de Jesus, no bairro do Janga, em Paulista. Lá, dezenas de pessoas se reuniam para esperar o descarte do lixo do supermercado Bompreço, que depositava irregularmente no local produtos considerados impróprios para o consumo de seus clientes. Mercadoria com a validade vencida, comida estragada e recipientes de produtos químicos enchiam os braços e os veículos improvisados dos que passavam o dia por ali. O Diario flagrou a movimentação no depósito e conversou com a população que coletava com naturalidade os alimentos descartados.

Segundo o Bompreço, que realizou mudanças no depósito de lixo desde que foi contatado pela reportagem, a situação da unidade do Janga era episódica, e o flagrante um incidente pontual que não corresponde à conduta da empresa na gestão de resíduos de suas lojas, “que inclui descarte correto de produtos e atende aos padrões e normas vigentes”.

Maria*, uma das catadoras de lixo que aguardava no local, demonstrava que a necessidade era mais grave do que sua preocupação com a própria saúde. “Se não for aqui, onde eu vou buscar minha feira de toda semana?”, questionou, após contar que conhece uma criança que foi internada por consumir alimentos retirados dali. Todos os que estavam no depósito afirmavam que aquele lixo era uma importante fonte para uma de suas necessidades básicas: comer.

Jorge José Tavares, também catador, mora em Pau Amarelo e se deslocava até o Janga para aproveitar o lixo descartado pelo supermercado. “Eu procuro comida que não passou da validade ou que já passou mas ainda está boa”, disse. “A comida que está estragada eu dou pro meu cavalo. Mas ele está muito bem”. Na carroça presa ao animal, os produtos que Jorge considera inofensivos a própria saúde: frutas descartadas sem embalagem, alimentos vencidos há poucos dias e recipientes do removedor de cera Freedom, fabricado pela Diversey Brasil Indústria Química, cuja venda direta ao público é proibida.

A naturalidade com que tudo vinha acontecendo na Rua Severino Monteiro de Jesus, localizada por trás do mercado e perto da beira-mar, denuncia a rotina estranha que a falta de condições básicas pode criar. Além de presenciar o consumo e retirada dos alimentos do lixo, funcionários do Bompreço foram flagrados entregando produtos diretamente aos que esperavam em volta do depósito. Os catadores, inclusive, ajudavam no descarregamento, levando os produtos descartados para a lixeira. Moradores da região, apesar de também familiarizados, pareciam preocupados com o caso. “É ruim, mas é uma opção” foi um consenso repetido entre os que conversaram com a reportagem do Diario.

Regivaldo Luís de França, porteiro que trabalha próximo ao Bompreço há oito meses, presenciava a cena todos os dias. “A partir das seis da manhã as pessoas se juntam ao redor do lixo. Ficava gente esperando até o final da tarde. Todo mundo sabe da situação, inclusive os funcionários do mercado”, afirmou. “Tenho parente muito pobre que talvez estivesse nessa situação. Não sei quem é o responsável, mas acho isso um absurdo”. Regivaldo, falando sobre a desigualdade social no bairro do Janga, sintetizou o sentimento dos moradores, como ele: “A avenida da praia tem um monte de coisa bonita. Mas é só entrar nessas ruas pra ver que não é assim em todo lugar”.

De acordo com o professor Antônio Duarte Coelho, do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nenhuma comida descartada deve ser consumida. “Há quatro motivos básicos: o risco de contaminação química, que pode ser causada por produtos banais como detergente ou água sanitária; o apodrecimento natural do alimento e o ataque de insetos, agravados nessa situação; e a dificuldade que pessoas sem muito recursos têm no acesso ao atendimento médico”. Antônio explica que o consumo desses alimentos pode causar de diarreia simples à cegueira, lesionamento irreversível de órgãos internos e o óbito. “Todo alimento deve ser jogado fora com responsabilidade”, acrescenta.


Segundo a Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), alimentos devem ser descartados em sacos fechados. Uma vez depositados em bombonas ou lixeiras, devem ser recolhidos e levados ao aterro sanitário do município. Não embalar os produtos estragados e facilitar o acesso da população a esses alimentos configura uma irregularidade. (laís Araújo).

*nome fictício


A fome

O Brasil reduziu a porcentagem de pessoas que passam fome, de acordo com o Relatório de Insegurança Alimentar no Mundo (SOFI 2012), publicado conjuntamente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Em dez anos, o percentual passou de 14,9% para 6,9%, o que totaliza aproximadamente 13 milhões de famintos no país. 

Fonte: Diário de Pernambuco

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