O céu de brigadeiro de Eduardo Campos
Resultado das eleições confirmam hegemonia
de Eduardo que nem os aliados projetavam;
PT e PSDB, de olho nas
eleições de 2014, não devem lhe fazer oposição
Sérgio Montenegro Filho
Diz a tradição política no Brasil que, encerrada uma
eleição, a campanha seguinte é deflagrada de imediato. A vitória de
Geraldo Julio (PSB) na briga pela Prefeitura do Recife, além de
consagradora para o candidato eleito e para seu padrinho político,
Eduardo Campos (PSB), traça as primeiras linhas do cenário da disputa
pelo governo do Estado em 2014. Deixando claro, desde já, a situação
confortável que o comandante da sucessão – o próprio governador – e seus
aliados vão encarar daqui por diante. Se a oposição já capengava em
Pernambuco antes do pleito municipal, apuradas as urnas nas principais
cidades, ela foi praticamente extinta. A força do rolo-compressor
palaciano atingiu limites não imaginados até mesmo por alguns aliados de
Eduardo.
Para outros, porém, os resultados eleitorais apenas confirmaram a
hegemonia do líder maior da Frente Popular, consolidando uma estratégia
de garantir a maior base local possível para reforçar a decolagem de
Eduardo rumo ao plano nacional em 2014. Amparado no sonho de chegar à
Presidência da República, ou pelo menos à vice, o governador atropelou
os adversários, obrigando-os a rever o conceito de oposição no Estado se
pretendem sobreviver politicamente. De uma só tacada, conquistou para o
PSB 58 prefeituras no Estado, e se somado aos êxitos dos demais
partidos da Frente Popular, esse número sobe para 140, das 184 cidades.
Aliados de Eduardo dão a receita, relembrando a chegada do PSB ao
poder em Pernambuco em 2006: uma oposição de verdade precisa provar que o
rumo do governo está errado e tem que apontar um projeto alternativo.
Segundo eles, essa foi a tese aplicada pelos socialistas para bater a
poderosa União por Pernambuco (PMDB/PFL/PSDB), comandada por Jarbas
Vasconcelos. De lá para cá, complementam, nenhum grupo adversário
conseguiu provar que o governo Eduardo errou a mão.
Mas não é somente com base em conceitos que o governador vem
construindo seu palanque para 2014 e demolindo possíveis focos de
oposição. A perspectiva de uma candidatura no plano federal, aliada ao
bom relacionamento que ele mantém com as cúpulas nacionais dos
principais partidos, ajuda a neutralizar discursos adversários em nível
local. As duas forças políticas com dimensão suficiente para lhe fazer
“sombra” no Estado seriam PT e PSDB. O primeiro, porém, sofreu baques
duros e a partir de agora terá que se preocupar muito mais em lamber as
próprias feridas e se rearrumar internamente. As duas principais
lideranças petistas locais – Humberto Costa e João Paulo – saíram
derrotadas, complicando as opções de candidatura do partido.
Sem falar que, como o próprio ex-presidente Lula deixou claro quando
evitou passar pelo Recife durante a campanha, para não confrontar os
socialistas, os projetos nacionais do PT e do PSB para daqui a dois anos
têm denominadores comuns. Resta, apenas, aparar algumas arestas que
ficaram pelo caminho, como bem exemplifica o dirigente nacional
Francisco Rocha, o Rochinha. Segundo ele, a cúpula nacional petista não
tem nada contra o PSB. As críticas que existem recaem sobre Eduardo. “O
governador passou dos limites mínimos necessários para uma convivência
política entre dois partidos. Ele abusou da petulância na eleição do
Recife”, adverte ele. Mas em seguida, deixa claro que o confronto é
localizado e que as coisas devem se resolver.
Do lado do PSDB, a situação é igualmente tranquila para os
socialistas. Embora não esteja sendo construída uma aliança formal, a
boa relação mantida entre Eduardo e o presidenciável do partido, senador
Aécio Neves (MG), assegura ao governador um escudo contra ataques mais
pesados dos tucanos locais. Sem falar na amizade pessoal com o
presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra. A mão de ferro com
que Guerra controla a sua legenda em Pernambuco, unida à expectativa de
evitar arranhões no projeto de Aécio, na avaliação do núcleo político
socialista descortina um verdadeiro “céu de brigadeiro” para o
governador voar daqui até 2014.
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