Dissidentes da Rede organizam novo partido com apoio de Erundina
SÃO PAULO. O apoio da então candidata à Presidência Marina
Silva (PSB) ao senador Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições
do ano passado gerou tanto descontentamento entre os militantes
conhecidos como marineiros, que um grupo deixou a Rede Sustentabilidade e
iniciou a articulação de um novo partido. O primeiro encontro oficial
acontece nesta sexta-feira em São Paulo e tem a participação da deputada
Luiza Erundina (PSB).
O Avante, nome provisório do projeto de partido, tem
inspiração no Podemos, partido que surgiu na Espanha após o Movimento
15-M, os “Indignados”, em 2011, provocado pela crise econômica. O
Podemos se consolidou como a terceira maior força política espanhola
discutindo corrupção, polarização partidária e efeitos da crise
europeia. Um dos articuladores do 15-M, Javier Toret Medina, também
participa do evento de hoje.
No Brasil, as manifestações de junho de 2013, além da
eleição polarizada, contribuíram para a insatisfação dos dissidentes da
Rede. Segundo Célio Turino, que já foi porta-voz da Rede e antes era
filiado ao PT, o grupo já está organizado em 15 estados.
— Não nos colocamos como terceira via mas como segunda. O
que temos hoje é igual, só trocam os rostos, todos têm o argumento de
governo de coalizão. Chamamos isso de coalizão de castas, castas
partidárias e econômicas que se revezam no país, agindo de acordo com
interesses próprios e por cargos. Vamos enfrentar uma crise muito grande
no país esse ano, econômica, política, social, ética, e há uma grande
demanda por alternativas.
Turino afirma que o Avante é composto não só por dissidentes de partidos mas de integrantes de movimentos sociais.
— Nós queremos um partido-movimento. Não é exatamente um
partido, é um partido misturado com movimentos sociais autônomos da
cidade. Ele se organiza a partir de círculos. Por exemplo, a Marcha da
Maconha discute a política de drogas, o Parque Augusta discute os
parques da cidade, movimentos sobre a reforma política. são círculos
temáticos.
DESCONTENTAMENTO
Foto: Divulgação |
A deputada
Luiza Erundina se diz descontente com os rumos que o PSB tomou após a
morte do presidente nacional do partido, Eduardo Campos e vê com
otimismo o surgimento de uma nova sigla.
— Desde que Marina resolveu apoiar Aécio no segundo turno,
eu me afastei. E estou insatisfeita com a condução dessa diretoria atual
do PSB. Esse não é o partido para qual fui há 15 anos, mas ainda
acredito numa reconstrução de voltar a suas origens e seu compromissos
históricos e uma condução mais democrática.
Apesar de haver 28 partidos representados no Congresso, Erundina acredita que há espaço para uma nova sigla.
— Há uma demanda, há uma expectativa de articular essa força
vem das ruas sem vínculo com partidos, o que nos leva crer que há um
espaço para esse tipo de movimento fugindo do modelo tradicional, que se
limita a uma disputa de poder. É uma visão democrática da política. São
ideias mais modernas de participar do processo político a serviço das
causas desses movimentos e com soberania popular.
Questionada sobre o ânimo de participar da discussão de mais
um partido após das decepções com o PT e, mais recentemente, com o PSB,
Erundina afirma que acredita na mudança, mesmo que lenta.
— O desânimo é conservador, ele nos desmobiliza, ele nos
coloca na dimensão individual, pessoal, que não é política. Como diz
Hanna Arendt (filósofa alemã), a constituição do sujeito é política e a
ação é coletiva. Então, uma partido é um instrumento, uma ferramenta,
para a transformação, para a luta, para defender bandeiras, não é para
ter mandato. E eu não desanimo porque eu acredito na mudança. Ela pode
não se dar no meu tempo mas um dia acontecerá. E se eu ficar quieta, me
acomodar, simplesmente me queixando, isso não vai acontecer. Quero dar
essa contribuição até o ultimo momento que eu tenha condições de
trabalho para servir.
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