Trabalhadores paralisam parcialmente um dos canteiros de Belo Monte
Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Cerca de 800 trabalhadores da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte lotados no Sítio de Pimental, uma das frentes de obras, decidiram
parar suas atividades. Apesar de confirmada pelo Consórcio Construtor
Belo Monte (CCBM), a paralisação não tem respaldo do Sindicato dos
Trabalhadores da Construção Pesada do Pará (Sintrapav), legitimado pela
Justiça para representar os trabalhadores da usina.
Segundo o consórcio responsável pelas obras civis do empreendimento,
a verdadeira motivação é uma disputa entre sindicatos pela
representatividade dos mais de 20 mil trabalhadores da obra. De um lado
está o Sintrapav. Do outro, defendendo a substituição deste pelo
Sindicato dos Trabalhadores da Industria da Madeira e da Construção
Civil de Altamira e Região (Sinticma), a Central Sindical Popular
(Conlutas).
Foi a Conlutas que entrou em contato com a Agência Brasil
para informar a paralisação. O líder sindical da entidade, Walter
Santos, disse que a paralisação abrangeria 100% dos trabalhadores do
Sítio Pimental. “São mais de 4 mil trabalhadores parados”, disse.
O CCBM, por outro lado, diz que, dos 4 mil trabalhadores lotados em
Pimental, no máximo 20% teria aderido ao movimento, mas que a obra
continua funcionando normalmente e que a diminuição do ritmo é
consequência de medidas preventivas de segurança no Sítio de Pimental.
Os demais canteiros funcionam normalmente.
Apesar de não representar os trabalhadores da obra, foi a Conlutas
que apresentou a lista de reivindicações. “Queremos um adicional de
confinamento que correspondente 40% do valor apresentado em
contracheque; a redução de seis para três meses do intervalo entre as
baixadas [período de folga dado aos trabalhadores vindos de outras
regiões para visitarem suas famílias] para os recém-contratados
[funcionários mais antigos já conquistaram a redução]; plano de saúde;
pagamento correto pelas horas trabalhadas nos fins de semana; telefonia
de melhor qualidade; e o fim do trabalho na chuva”, disse o
representante do Conlutas. “Além disso queremos a destituição do
Sintrapav”.
O vice-presidente do Sintrapav, Roginel Gobbo, disse que não há
qualquer paralisação nos canteiros, muito menos uma lista de
reivindicações. “Nem poderíamos fazer tais reivindicações, porque
acabamos de sair da nossa data base, que é em novembro. Claro que, como
de hábito em obras de grande porte, há sempre algumas reivindicações e
pedidos sendo feitos”, disse.
De acordo com o CCBM, mesmo que houvesse interesse em negociar, a
negociação jamais poderia ser feita com a Conlutas, pois a entidade "não
tem a menor legitimidade para falar em nome dos trabalhadores ligados à
obra". A legitimidade - argumenta o CCBM tendo por base a legislação -
pertence exclusivamente ao Sintrapav.
Tanto a Conlutas como um empregado do CCBM informam que, em média, a
contribuição sindical, paga mensalmente por todos os funcionários ao
Sintrapav é R$ 30. Atualmente, há cerca de 22,5 mil trabalhadores
contratados. A expectativa é que, no segundo semestre, se atinja o pico
de contratações da obra: 28 mil trabalhadores. O sindicato que obtiver o
respaldo dos operários terá, na época de pico, uma receita mensal de R$
840 mil – ou R$ 10,08 milhões anuais.
As suspeitas de que, por traz da paralisação, está uma briga
sindical é confirmada pelo Sintrapav, mas negada pela Conlutas. “Não é
guerra de sindicatos, e sim insatisfação dos operários com o Sintrapav”,
diz o representante da Conlutas. “Quem diz isso faz um discurso frouxo,
de salão, que tenta nos pôr roupa e imagem que não nos pertencem. Nosso
interesse não é econômico. É político. Sempre do lado dos
trabalhadores”.
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