De volta ao mundo de Alice
Roberto Santucci e Ingrid Guimarães repetem fórmula em
“De Pernas pro Ar 2” para atrair espectadores
O realizador Robert Santucci está com tudo e não está prosa, ao
menos do ponto de vista do mercado exibidor de cinema. O cineasta
coloca em cartaz hoje, pela distribuidora Paris Filmes, o seu “De Pernas
pro Ar 2” (Bra., 2012), com Ingrid Guimarães. O filme chega com o
impressionante número de 700 cópias que irá ocupar próximo de 1/3 das
2,5 mil salas existentes no País. É um número sintomático que marca o
segmento para filmes nacionais.
Foi com 700 cópias que filmes como “Homem Aranha 2” (2004) e “Avatar”
(2009) chegaram ao Brasil. O empenho por esta ocupação não é à toa,
claro. O primeiro “De Pernas pro Ar”, também de Santucci, estreou em 31
de dezembro de 2010 e levou 3,5 milhões de espectadores às salas de
cinema. Agora, no segundo semestre de 2012, Santucci também era o nome
por trás do filme brasileiro campeão de público nos cinemas, “Até que A
Morte nos Separe”, cujo êxito tem a marca de 3,6 milhões de
espectadores.
Acreditando no tino do realizador e na sua afinação para truques
discursivos com o gosto do público médio, a Paris Filmes preparou o
lançamento grandioso, que também irá contar com um monumental trabalho
marqueteiro de divulgação. Em resumo, para onde você se virar, neste
final e início de ano, você ouvirá falar de orgasmo feminino e de Alice
(Guimarães), uma empresária estressada.
Em 2011, a historinha de Alice, que com a ajuda da vizinha Marcela
(Maria Paula) descobre como relaxar com vibradores eróticos, agradou o
público médio dos multiplex. A sequência, em particular, que provocava a
curiosidade desse público mostra Guimarães atrapalhada com a calcinha
que a estimula sexualmente de forma acidental num lugar inapropriado,
como num jogo de futebol. A fórmula de humor, velha e já usada em mais
de uma comédia de costumes de Hollywood, agora acontecia com a gíria
carioca.
No filme 2, Alice já é uma empresária de sucesso no ramo sexual. Mas
diante de tanta pressão, a saúde da mulher viciada em trabalho está
prestes a ter um colapso, sem falar que mais uma vez ela põe em risco o
casamento com João (Bruno Garcia). Depois de um desmaio na inauguração
de sua 100ª loja, João a obriga a ir para um spa e ficar isolada do
mundo. A questão é que a possibilidade de abrir uma loja em Nova Iorque
abrevia sua estada de repouso. A empresária inventa uma viagem com a
família aos EUA para relaxar, quando, na verdade, ela esconde do marido,
do filho e da doméstica (Cristina Pereira) que está lá para se reunir
com possíveis investidores americanos.
Se na narrativa que Santucci utiliza nos seus filmes já era possível
enxergar de forma gritante a mesma estrutura que pauta as comédias
norte-americanas, com marcação no roteiro para situações de falência,
descoberta, confusão, virada de mesa e redenção - sendo todas estas
etapas explicitamente marcadas. Agora, com seu “De Pernas pro Ar 2”, o
cenário também é o da gringolândia. Cerca de 1/3 do filme tem locações
em Nova Iorque, e as correrias de Alice, com a família a tiracolo,
acontecem na mesma Big Apple das comédias românticas de tanto sucesso
por aqui.
A diferença fica por conta do troncho sotaque brazuca falado pelos
personagens nos EUA. Na verdade, serve como mais um mote para Santucci
tirar proveito com o humor fácil por esse tipo de situação, que vem se
tornando cada mais acessado pelos brasileiros da classe média. O segredo
do sucesso de “De Pernas pro Ar 2”, explicando então, existe pela
histórica cultura do brasileiro de rir de si próprio, aqui com Santucci
reprocessando a fórmula mais que garantida da comédia de erros
hollywoodiana. Para fazer dinheiro, não há como errar.
Fonte: FolhaPE
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