Pesquisa do BC aponta causas do endividamento excessivo
Fatos inesperados, falta de planejamento e empréstimo para outra
pessoa são os principais motivos citados por consumidores para início do
endividamento excessivo. É o que apontam resultados preliminares de
pesquisa divulgada hoje (19) pelo Banco Central (BC). Para o estudo, que
tem caráter qualitativo e não quantitativo, foram formados oito grupos
de discussão, tendo, cada um, de oito a dez pessoas em situação de
endividamento. Os grupos debateram o assunto em quatro capitais: Rio de
Janeiro, São Paulo, Recife e Porto Alegre.
Entre os fatos
inesperados que levam ao endividamento, os participantes citaram perda
de emprego, doença própria ou de alguém da família, morte do responsável
pela renda da casa, gravidez não programada e separação conjugal. Com
relação à falta de planejamento, os consumidores mencionaram a
realização de compras ou abertura de crediário por impulso. Eles
disseram acreditar que as linhas de crédito são benéficas, se utilizadas
de forma consciente.
De acordo com nota do BC, muitos
entrevistados reconheceram ser os principais responsáveis pela situação
de endividamento, mas consideram que as instituições financeiras também
têm sua parcela de culpa. Alguns entrevistados mencionaram que a oferta
de crédito esconde “armadilhas”. Entre elas, excesso de linhas com
oferta ostensiva, falta de informações claras e de alerta sobre os
riscos, concessão ou aumento do limite de crédito acima das condições e o
recurso do pagamento mínimo.
Os entrevistados que reconheceram a
própria responsabilidade pelo endividamento excessivo mostraram, ainda,
mais propensão a adotar mudanças de comportamento com relação à
organização financeira. Diversos consumidores alegaram que tentaram
negociação com os credores. No entanto, na maioria das vezes, eles só
ofereciam condições de renegociação consideradas viáveis quando o débito
se aproximava do prazo de prescrição, que é de cinco anos.
O BC
destacou que aguardar a prescrição não parece ser uma estratégia
premeditada de pagamento das dívidas, já que os consumidores
consideraram longo o prazo para que os débitos expirem, com
consequências materiais e emocionais negativas. Eles também apontaram
soluções para prevenir o endividamento excessivo. São elas controlar o
orçamento por meio de planilha, manter no máximo um cartão de crédito,
poupar e ter reserva financeira, não parcelar as compras em muitas vezes
e aceitar propostas de renegociação apenas se o credor reduzir os
juros.
Segundo o Banco Central, “os resultados preliminares já
indicam possíveis caminhos para as ações de educação financeira da
população”. O BC ressalta ainda que os dados podem ajudar no estímulo a
boas práticas na concessão de crédito por bancos e outros credores. Os
resultados também vão servir de base para uma pesquisa quantitativa
sobre o assunto, já que as conclusões do estudo atual não têm valor
estatístico.
Os grupos de discussão foram formados por homens e
mulheres com idades entre 20 e 80 anos. Eles foram selecionados entre
consumidores que procuraram o auxílio de Procons ou Defensoria Pública
em razão de endividamento excessivo, cujos nomes têm restrições
cadastrais junto ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) ou Serasa.
Também
nesta quarta-feira, o BC divulgou nota com informações sobre o
microcrédito no país, consolidadas a partir do Sistema de Informações de
Crédito do Banco Central (SCR). Segundo o levantamento, a carteira de
microcrédito soma R$ 5,3 bilhões, o equivalente a 0,2% do sistema
financeiro nacional. A maior parte do valor da carteira identificada,
52%, está no Nordeste. Os recursos são tomados principalmente por
pessoas físicas. Dessas, 35% ganham até um salário mínimo.
Fonte: Agência Brasil
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