Pesquisadores descobrem nova espécie de peixe no RS
Batizado de Austrolebias bagual, ele vive em poças temporárias.
Grupo encontrou espécie em Encruzilhada do Sul, no Vale do Rio Pardo.
(Foto: Matheus Volcan/Divulgação) |
Pesquisadores brasileiros catalogaram nova espécie de peixe da
família Rivulidae, na bacia do Rio Camaquã, no município de Encruzilhada
do Sul (RS), que já surge “criticamente ameaçada de extinção”, disse
hoje (19) à Agência Brasil o coordenador do Instituto Pró-Pampa (IPPampa), Matheus Volcan, responsável pela pesquisa.
A
nova espécie (Austrolebias bagual) faz parte do grupo de peixes com
distribuição bastante restrita. “Eles ocorrem em ilhas de água, em
pequenas poças d'água ou charcos banhados, como a gente chama aqui no
Sul, isolados por terra. Esses ambientes são, em geral, muito pequenos e
isolados. O isolamento faz com que ocorra um grau muito alto de
especiação desse peixe”.
Matheus Volcan informou que em cada
bacia hidrográfica se encontra uma espécie diferente. “São ambientes
aquáticos cercados por terra. Essa espécie não ocorre em ambientes
permanentes, como rios e riachos”. Por isso, a capacidade de
sobrevivência é baixa.
A área não tinha sido ainda estudada por
pesquisadores para levantamento de fauna, em especial de espécies de
peixes. “A gente teve a sorte de achar essa espécie na bacia do médio
Rio Camaquã, que é pouco estudada, embora seja muito degradada”, relatou
Volcan.
O projeto Peixes Anuais do Pampa foi iniciado em 2011
pelo IPPampa, para busca de espécies e áreas novas, patrocinado pela
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. A descoberta foi
descrita oficialmente em outubro passado na Revista Internacional de
Ictiologia AQUA, dedicada a estudos e pesquisas sobre peixes. Segundo o
pesquisador, outras quatro espécies estão em processo de descrição.
Volcan
explicou que a nova espécie tem um ciclo de vida relacionado com a seca
do ambiente. Os peixes vivem em poças de profundidade máxima de 60
centímetros, em áreas campestres, o que os deixa isolados. Quando o
casal atinge a maturidade sexual, os peixes depositam os ovos no lodo.
“E quando o charco seca, todos os adultos morrem. Os ovos ficam vivos no
substrato para o seu desenvolvimento embrionário. Se o ambiente não
secar, este é o maior problema para esta espécie, porque pode afetar o
desenvolvimento embrionário”, explicou.
No ano seguinte, quando
as novas chuvas começam e alagam o local, os ovos se abrem e surge novo
ciclo de vida. Não há sobreposição de geração, acrescentou Volcan. Daí a
espécie ser conhecida como peixes anuais ou sazonais.
Matheus
Volcan salientou a importância da descoberta porque, embora sejam peixes
pequenos, eles têm um perfil ecológico. Ou seja, eles controlam a
biodiversidade dessas áreas. “Eles comem todas as larvas de mosquitos,
os micro crustáceos dentro dessas poças. Eles têm papel importante para o
equilíbrio ecológico das áreas úmidas, que são ambientes associados a
rios e lagoas. Este tipo de ambiente é o mais ameaçado do planeta”.
De acordo com o pesquisador, a ameaça de extinção está relacionada à perda de habitats.
Toda a área onde ocorreu a descoberta está degradada, devido às
plantações de arroz, soja e trigo. “A espécie está restrita a uma área
de apenas um hectare”. Ela está completamente isolada, e tem uma matriz,
no seu entorno, dominada por lavouras, disse.
DEIXE O SEU COMENTÁRIO